Já faz algum tempo que surgiu a neurociência e ultimamente anda ativamente pesquisando e divulgando seus achados.
Acho ótimo, estávamos atrasados em relação ao conhecimento do cérebro comparando-se com o restante do corpo. Mas …. como ainda é a ciência cartesiana que domina … os neurocientistas estão considerando o cérebro como sinônimo de mente.
Felizmente o planeta tem o seu lado oriental, com sua antiguíssima sabedoria, e é de lá que surgem vez por outra informações e conhecimentos riquíssimos que podemos somar às frias e insensatas teorias dos ocidentais.
Fiz faculdade de Psicologia, mas só fui entender mesmo o que é a mente humana quando li o livro do Dr. David Frawley. Embora ele seja americano de nascimento, escolheu se tornar um hindu por convicção. É considerado especialista em medicina Ayurvédica e graduou-se em medicina chinesa, também é professor védico, raja yogi e astrólogo védico.
Seu entendimento da mente humana é tão excepcional porque não é limitado pelo axioma ocidental de que “o todo é a soma das partes”. Os ensinamentos orientais têm um caráter holográfico, onde as partes refletem o todo.
“A mente é o principal veículo que usamos para tudo o que fazemos; no entanto, poucos sabem como usá-la ou zelar por ela, se é que alguém sabe.”
“A mente não é matéria física, mas é matéria de natureza sutil, etérea e luminosa.” (…)” o cérebro é o órgão físico por meio do qual a mente trabalha”.
“Cérebro e Mente são duas realidades distintas, enquanto o cérebro é condição da mente, a mente não é necessariamente condição do cérebro.” (http://cerebroemente.weebly.com/)
Frawley nos explica que o cérebro (com suas conexões químicas e elétricas) é somente uma ferramenta usada pela mente. A mente foi projetada pela Inteligência Cósmica para permitir que a consciência tenha suas experiências. Vejam então que mente também não é a mesma coisa que consciência.
É uma capacidade nossa, como seres sencientes, e não uma parte de nosso corpo físico. A mente se manifesta através de pensamentos, sentimentos, sensações que, por sua vez, agem como gatilhos para ativar certas partes do cérebro (que os neurocientistas percebem com seus instrumentos).
Bom, alguém vai argumentar que o cientista ativando certas partes do cérebro produz sensações e/ou emoções. Ok, sensações e emoções estão ligados à parte química do corpo, tendo suas respectivas áreas cerebrais também. Eu quero ver eles provocarem pensamentos (sem emoções ou sentimentos) …
Entender a mente e, principalmente controlá-la, é uma das mais grandiosas tarefas com que o ser humano se defronta. Afinal, é devido a ela que exultamos ou sofremos, que somos capazes de vencer obstáculos ou fracassar miseravelmente, que amamos ou odiamos, enfim é graças a ela que temos consciência de quem somos e de que estamos vivos.
“Aprender a usar de modo correto os recursos da mente não apenas resolve os nossos problemas psicológicos, mas também nos leva à compreensão superior de nós mesmos”.
Para começar a entender a mente é preciso notar que ela se desloca conforme a nossa percepção, portanto é altamente mutável e inquieta. Nossas horas de vigília são totalmente tomadas por sensações (através dos 5 sentidos), pensamentos e emoções, tudo se sucedendo velozmente, sem controle nenhum (exceto em pessoas treinadas).
Uma forma de acalmar e treinar a mente para nosso benefício é praticar meditação.
A mente também “propende a reações dualistas de atração e repulsão, amor e ódio e assim por diante. (…) Para afirmar uma coisa temos de sugerir o contrário. (…) Por exemplo, se dissermos a alguém que não pense num macaco, esse alguém naturalmente pensará num macaco.”
(… )”Ela pode facilmente cair presa dos opostos, ou vir a ser vítima de sua própria tendência para mudar de ideia. Por esta razão não deveríamos tentar obrigar a mente a se voltar a nenhuma direção determinada, mas deveríamos procurar conservá-la longe de quaisquer extremos”.
Estes dois parágrafos acima são de extrema importância para aprendermos a controlar a mente e merecem uma detida reflexão.
Sem os pensamentos, a mente desaparece. O problema maior é conseguirmos eliminar os pensamentos. Muitas vezes eles parecem um macaquinho doido dentro de nossa cabeça (lembrando que usamos o cérebro como ferramenta). Uma das coisas mais difíceis, para nós ocidentais, é fazer meditação (eliminando os pensamentos), mas é possível através do treino. De início a gente consegue esvaziar a mente nada mais do que um segundo, depois, aos poucos, vamos aumentando o tempo.
Outro controle que precisamos fazer é sobre a qualidade dos nossos pensamentos – o quê pensamos.
Como pensamentos são energia, eles também passam a existir, ter uma vida própria (os orientais chamam de formas-pensamento). A duração de suas vidas vai depender de quantas vezes temos o mesmo pensamento e de sua intensidade (emoção ou sentimento que o acompanha). Pensamentos fugazes e que não se repetem têm vidas (permanência) fugazes também.
Na Psicologia Clínica é comum encontramos pacientes que apresentam pensamentos recorrentes, que chamamos de obsessivos. Tais pacientes acabam se tornando vítimas de seus próprios pensamentos porque os mesmos já ganharam vida própria e teimam (e como teimam) em se apresentar novamente criando um círculo vicioso.
“Só quando mudamos nossos pensamentos mais profundos é que podemos realmente mudar e ir além dos limites impostos pela mente. Isso é muito mais do que mudar nossas ideias sobre as coisas, implica alterar nossos sentimentos e instintos mais profundos.”
Isso é nos livramos de hábitos arraigados e vícios mentais. Não é tarefa fácil, mas é realizável.
Como o assunto é muito amplo, retornarei ao mesmo em outra ocasião. Para os interessados em se conhecer melhor, recomendo o livro do Frawley.
Citações: Uma Visão Ayurvédica da Mente, Dr. David Frawley. Ed. Pensamento
( Originalmente postado no Expansão da Consciência )
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