Este é o meu primeiro guest post. E a pauta surgiu quando o Rafael Cruz publicou no seu Facebook um texto meu e deu origem a um edificante debate através do sistema de comentários daquela rede social. O leitor Renan Castro, amigo do Rafael , disse “texto exagerado hein…[…]Concordo em parte. eu acho que não dá pra generalizar geração nenhuma. As pessoas são muito diferentes, tem muita gente que não sai pegando todo mundo e que não sai pra esses lugares. Na época dos nossos pais já tinha esse negócio de ficar também, não é uma novidade nossa, talvez só o verbo”. Para que você entenda melhor o Renan : falávamos da pegação geral nas baladas.Este artigo me é duplamente útil. Ao mesmo tempo em que atendo orgulhoso ao convite da Luciana Vaz para postar neste estupendo site, respondo aos comentários feitos no Face e me aprofundo no tema. Além de ser uma oportunidade imperdível de expressar idéias cuja publicação no meu site não me seria conveniente devido ao posicionamento estratégico de marketing que lá adotei.
Eis :
Rafael, Renan , é óbvio que a minha crônica é um pequeno quadro caricatural de um determinado tipo de ambiente. Mas nem por isto deixa de espelhar os costumes e o sistema de crenças de toda a sociedade. Estamos vivendo uma etapa da infindável revolução sexual que começou com a gradativa entrada da mulher no mercado de trabalho e , principalmente , com o advento da pílula anticoncepcional na década de 60 , quando a mulher pôde deixar de encarnar o estereótipo de ‘rainha do lar’ que se esperava dela, e passar a ter um comportamento sexual mais liberal que antes ficava restrito ao matrimônio e, obviamente , à monogamia.
A chamada Indústria Cultural que já havia transformado o Feminismo, um legítimo movimento social, filosófico e político em mera mercadoria, tratou de transformar não só o sexo , mas o ato sexual em produto de consumo. Hoje já não nos escandalizamos com as revistas Playboy e outras bem mais despudoradas explicitamente expostas em todas as esquinas do país. Já encaramos com naturalidade cenas simuladas de sexo em programas de TV para o público infanto-juvenil. Já nem percebemos que as músicas do ‘hit parede’ falam cada vez menos do sentimento amor e cada vez mais do ato sexual, assim como ninguém percebeu que um dos hits do momento é um pernicioso funk travestido de sertanejo universitário, hahaha!,…digam-me, o que é isto ?! :
“Nossa, nossa
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
Delícia, delícia
Assim você me mata
Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego…”
Recentemente constatei boquiaberto que a música em pauta é a mais tocada atualmente em festinhas infantis , assim como ocorreu há tempos com a ‘Dança do Créu’. Sim,o invólucro cultural é cada vez mais permissivo e incentivador da precocidade da iniciação sexual, da desvalorização dos sentimentos que outrora aprendemos como nobres , e das relações rápidas, fugidias, efêmeras e transitórias. Daí a naturalidade com que a atual geração despudoradamente troca de parceiros inúmeras vezes em uma mesma noite na balada. Renan, a diferença entre a geração dos seus pais , da minha e da atual ( e novamente estou generalizando, dando graças à Deus que há exceções ) é que ficávamos com vergonha de certas coisas que fazíamos e de certos lugares que frequentávamos; a base moral era outra. Minha memória traz à tona uma reminiscência, uma frase de algum famoso que pode perfeitamente ser usada neste caso : “Só existem dois tipos de pessoas : as que gostam deste tipo de ambiente e as que mentem”.
Então poderia-se dizer em defesa do atual modus operandi que ele proporciona o surgimento de uma geração menos hipócrita ? Menos hipócrita quanto à própria sexualidade ,com certeza; mas não mais feliz. Não há mais envolvimento emocional. Valoriza-se apenas o sexo, não a pessoa. A paixão, quando emerge , é imediatamente sufocada pois é tida como sinal de fraqueza . O apaixonado não raras vezes é tido como démodé ou apontado como um desequilibrado. Vai-se então, tão alienado e infeliz como um operário em uma linha de produção, em uma busca desenfreada e frenética pela próxima boca a ser beijada e de uma genitália qualquer , no afã de se anestesiar a alma doente. Neste ponto não seria difícil traçar um paralelo com a atual escala do câncer das drogas na sociedade, mas não é este o foco do post.
Não questiono o mérito do funk como elemento legítimo de manifestação da cultura popular; muito pelo contrário, entendo que este gênero é uma maneira democrática do jovem, principalmente o da periferia, entrar para o universo musical por exigir equipamentos baratos e, digamos assim, pouca ou nenhuma técnica vocal. Não obstante, o funk também nos brindou com artistas com qualidades irrepreensíveis :
Mas como diabos chegamos a isto ? :
Levando-se em conta a imagem acima, quem em sã consciência diria que a indústria cultural não atua como cafetina , digamos, de uma parcela da classe artística e também como um elemento que influencia negativamente os incautos e inconseqüentes da Geração Z ?
Então a indústria cultural é um mal ?! Depende. Vejamos o que diz a Wikipédia :
“[…]Em todos os ramos da indústria cultural existem produtos adaptados ao consumo das massas, sendo por elas que as indústrias se orientam, tendo no consumidor não um sujeito, mas um objeto[…]”
Em outras palavras, se a bandalheira e a esbórnia chegaram à este ponto de devassidão, a culpa é da própria massa consumista, ou de parte expressiva dela , que continua agindo como um objeto inanimado à deriva sendo levado pela correnteza de interesses inconfessáveis.
Portanto, a mudança de rota é possível e só depende de cada um de nós. Faça a sua parte. Comece boicotando músicas, vídeos , realitys shows e outros programas de TV que usam e abusam da imagem e das mulheres frutas e outras bundas enquanto propagam a idéia de que palavrão é poesia e o mundo um grande bordel . Nossos filhos ainda não sabem, mas eles , ou os filhos deles , nos agradecerão.
Tiozão das Batidas, único camelô blogueiro do Brasil, administrador do blog Boteco Móvel, comedor profissional de alho cru, casado , domesticado e vermifugado. |
( ORIGINALMENTE PUBLICADO NO GOSTOS E DESGOSTOS em 2 de dezembro de 2011)
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