A teoria do clone e o delírio político brasileiro
O Brasil já produziu muita ficção, mas poucas são tão criativas quanto as teorias nascidas em grupos políticos fechados. A mais recente: Jair Bolsonaro não foi preso. Quem está na cela — dizem — é um clone.
A tese vem de Luciano Cesa, influenciador conhecido por transformar qualquer fato em roteiro de filme conspiratório. E, como sempre, uma parte da militância abraçou a história sem titubear.
O que exatamente estão dizendo?
Segundo Cesa, Bolsonaro estaria tranquilamente nos EUA enquanto a PF teria levado um “duplicado” para cumprir a pena. A história circulou com entusiasmo (veja o vídeo aqui) entre grupos que vivem conectados 24h em busca de um novo enredo para justificar os desdobramentos políticos que não se encaixam na narrativa de seus líderes.
Existe prova disso?
Resposta curta: Nenhuma.
Resposta completa: Nada além da própria vontade de acreditar.
Não há vídeo, documento, registro público, testemunho — absolutamente nada — que sustente a tese.
Mas em um ambiente onde qualquer versão alternativa é mais atraente do que admitir que o ídolo enfrenta consequências, a ausência total de evidências vira detalhe descartável.
Por que teorias assim ganham força?
Porque o Brasil vive um momento em que:
- parte da população substitui análise por torcida;
- fatos se tornam opcionais;
- direita, esquerda e instituições competem para ver quem gera mais desconfiança;
- e o debate se transformou em um campo de batalha de narrativas, não de realidade.
É por isso que, em vez de discutir problemas concretos, muitos preferem acreditar em clones, chips, interferências místicas e outras soluções mágicas que evitam lidar com a verdade incômoda:
o fanatismo político cegou o país inteiro, não apenas um lado.
Quem é Luciano Cesa na história?
Cesa é um personagem que prosperou justamente nesse ambiente degradado.
Transforma suposições em certezas, dá verniz de mistério ao óbvio e fornece aos seguidores algo essencial: uma explicação que não exige pensar.
Em grupos fechados, ele virou autoridade — não por ter conhecimento, mas por oferecer a narrativa que o público quer ouvir.
O que essa teoria mostra sobre o Brasil atual?
Mostra que:
- existe um público disposto a acreditar em qualquer coisa, desde que sirva ao próprio time;
- instituições, partidos e lideranças perderam credibilidade a um ponto em que a ficção parece mais confiável que a realidade;
- a radicalização criou um ambiente onde o delírio é mais confortável do que a lucidez.
Não é uma questão de direita ou esquerda: o país inteiro está intoxicado por narrativas que substituem a reflexão por fé política.
Conclusão
A história do “clone de Bolsonaro” é só mais um sintoma de um Brasil que perdeu o senso de proporção. Não se trata de defender autoridades ou a figura do ex-presidente — trata-se de reconhecer que estamos presos em uma espiral onde cada grupo inventa a própria realidade.
Enquanto prevalecer esse ambiente, sempre haverá espaço para clones, planos secretos, interferências cósmicas e qualquer outra fantasia que alivie o desconforto de encarar o real.
Disclaimer: Este site apresenta notícias, opiniões e vídeos de diversas fontes. As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não refletem necessariamente as opiniões do site ou de seus editores. SAIBA MAIS CLICANDO AQUI.

