Personagem que inspirou O Justiceiro da Marvel, Mack Bolan foi o pioneiro do vigilantismo moderno na ficção popular
Muito antes de muito personagem do cinema começar a fazer justiça com as próprias mãos, um personagem surgiu na literatura para usar seus conhecimentos e perícias adquirido nas forças especiais do exército americano para combater o crime fora da lei. Você pode já ter visto esta história inúmera vezes, mas a matriz dos modernos justiceiros violentos do cinema e TV está na literatura, e foi criado no fim dos anos 60 por um ex-militar. Conheça a história de Mack Bolan, o Executor, e sua luta contra o mal que dura quarenta anos.
Uma breve história de um executor
O livro War Against the Máfia foi lançado em 1969 pela Pinnacle Books. Na história, o sargento dos boinas verdes e atirador de elite Mack Bolan retorna das selvas do Vietnã após saber que sua família acabou morta por envolvimento com a Máfia. Bolan decide que o inimigo a ser combatido não está no sudeste asiático, e sim em sua terra. Com cinco disparos certeiros de um rifle Marlin .444, o soldado das forças especiais inicia sua guerra pessoal contra a Máfia. Durante o período em que combateu diretamente a Máfia, Mack Bolan envolveu velhos colegas de armas em sua vendetta, fez plástica, se infiltrou em vários segmentos do crime organizado, e não se importava com a contagem de corpos. Após anos em guerra contra os mafiosos, ele aparentemente morreria em um último combate.
Guerra Contra a Máfia
Escrito por: Don Pendleton
Data de publicação: março de 1969
Mas Bolan não morrera. O agente federal Hal Brognola acabou propondo e convencendo Bolan a trabalhar em uma nova guerra, dessa vez com o aval direto do Presidente. Bolan voltaria na pele do Coronel John Phoenix. Dado como morto, Bolan foi recrutado pelo governo americano para formar a força-tarefa secreta com o objetivo de combater na guerra suja contra o terrorismo internacional. Tendo como quartel-general a fazenda Stony Man, na Virgínia, Bolan teria a sua disposição toda uma estrutura de apoio às operações antiterror que Bolan e seus irmãos em armas iriam desempenhar.
Armado com uma pistola Beretta 93-R, uma Automag .44 e o que mais o especialista Konzaki fornecesse, Bolan salvou os Estados Unidos e o mundo inúmeras vezes, matando qualquer criminoso que se metesse em seu caminho. Quase sempre os vilões eram terroristas islâmicos, paramilitares de extrema direita ou grupos financiados pela KGB, em pleno auge da Guerra Fria.
Além da série de Mack Bolan, outras duas séries surgiram: Able Team, formado pelos dois companheiros de armas de Bolan, Rosário Blancanales e Gadgets Schwart, além do ex-policial Carl Lyons. Outra série é a Phoenix Force, uma equipe de cinco combatentes de várias nacionalidades. Todas as missões são secretas, sancionadas diretamente pelo Presidente dos Estados Unidos.
Mas Bolan é um lobo solitário. Após uma conspiração interna que promoveu ataques contra a Fazenda Stony Man e levou a morte de companheiros, incluindo sua amante, April Rose, Bolan saiu em uma caçada que acabou na Sala Oval da Casa Branca. Lá, na frente do Presidente, ele matou com as próprias mãos o responsável por tudo e voltou à clandestinidade, em uma guerra pessoal contra a própria KGB.
Mesmo em uma cruzada solitária, Stony Man ainda o apoiava secretamente. Anos depois, Bolan voltaria a trabalhar sob sanção oficial, mas com a condição de aceitar ou recusar as missões a ele impostas.
O Pai da Criança
Don Pendleton – o criador de Bolan
As aventuras de Mack Bolan foram escritas por Don Pendleton sem maiores pretensões de continuidade ou de sucesso. Mas parece que o veterano da segunda guerra acertou em cheio em suas histórias. Os Estados Unidos estavam passando por uma fase bastante liberal, com leis muito brandas para os criminosos, e o público aprovou o personagem implacável contra os criminosos que se aproveitavam das leis lenientes para se safarem da justiça. As histórias se caracterizavam por serem violentas, mas também pelos detalhes em relação às armas e táticas usadas pelo Executor, já que Pendleton servira por anos na Marinha Americana, inclusive durante a II Guerra Mundial. Pendleton escreveu 38 livros da série. Em 1980 sairia Sathan Sabbath, o capítulo final da guerra contra a máfia. Também seria o último livro de Bolan publicado pela Pinnacle Books e o último escrito diretamente por Pendleton.
Satans Sabbath
Escrito por: Don Pendleton
Data de publicação: março de 1980
A nova série de livros agora sairia pela Harlequim, com o selo Gold Eagle. Mesmo não escrevendo mais as histórias, Pendleton receberia os direitos autorais, teria seu nome nas capas dos livros e as histórias seriam submetidas a sua aprovação. Esta série é publicada até os dias de hoje, e o número de livros publicados com o personagem superou a incrível marca dos seiscentos exemplares. Don Pendleton faleceu em 1995.
Bolan em outras mídias
Além da série em livros e dos audiobooks, o personagem teve suas histórias adaptadas aos quadrinhos. A editora Innovation Publishing, especializada em adaptações de romances e filmes, lançou uma minissérie em quadrinhos baseada em Mack Bolan. Foram publicadas poucas edições antes da editora encerrar suas atividades em 1993. Algumas dessas histórias foram, inclusive, desenhadas pelo brasileiro Deodato Borges, o Mike Deodato. Em 2008, a IDW Publishing lançou a minissérie de cinco partes Mack Bolan The Executioner: Devil’s Tools.
Escrito por: Don/Linda Pendleton e Sandu Florea
Data de publicação: 1993
Mas um personagem da Marvel é freqüentemente comparado com Mack Bolan, tanto pelo visual, quanto pelos métodos e motivações: O Justiceiro. Inclusive muitos, ao verem os quadrinhos do Executor, imaginaram que esse era um “plágio” do Justiceiro, quando na realidade, este foi criado em 1974, seis anos depois do primeiro livro de Bolan.
| Frank Castle, O Justiceiro (The Punisher) – Inspiração vinda de Mack Bolan |
Para o cinema, por incrível que pareça, o personagem nunca foi adaptado, apesar do direito dos livros terem sido adquiridos por Hollywood desde 1970, e chegaram a passar pelas mãos de Burt Reynolds e Sylvester Stallone. Em 2014 a Warner comprou os direitos sobre Mack Bolan, chegando a anunciar que gostariam de ter Bradley Cooper fazendo o papel, mas desde então nada mais foi divulgado. Não obstante um filme de Bolan nunca chegar a ser produzido, o estilo Mack Bolan de fazer justiça pelas armas acabou chegando ao cinema através de outros personagens, e hoje é quase um pré-requisito dos heróis de ação ser um clone de Mack Bolan.
Mack Bolan é frequentemente comparado a figuras como James Bond, Jack Reacher e The Punisher, com quem compartilha elementos como o combate solitário ao mal e o uso de força letal justificada por um código moral pessoal.
A série continua nos EUA, mas…
No Brasil, as aventuras de Bolan foram publicadas nos anos setenta e oitenta. Alguns livros da primeira série foram publicados pela Novo Tempo (com o título O Carrasco) e reeditados pela Ediouro. Os do selo Gold Eagle saíram no Brasil pela Nova Cultural, selo da Editora Abril, na última metade dos anos oitenta, que publicou, além da série Mack Bolan, as série Able Team e Phoenix Force, além das séries Track e SOB´s, que não tinham relação com Mack Bolan, mas seguiam o mesmo estilo. Atualmente os livros não são publicados no Brasil, mas os antigos podem ser encontrados em sebos. Ironicamente, as edições brasileiras omitiam os autores, sempre trazendo na capa o nome de Don Pendleton, não obstante ele não ter escrito tais livros. Os quadrinhos não foram publicados no Brasil.
Eram títulos que dividiam espaço nas prateleiras das bancas de jornal, em edições de bolso acessíveis e populares. Uma literatura muitas vezes rotulada como “de segunda linha”, mas que, na prática, foi essencial para difundir o hábito da leitura entre gerações que, até então, só encontravam esse tipo de narrativa nas telas de cinema — conquistando, com justiça, seu merecido status de cult.
Desde 1969, a série Mack Bolan – The Executioner gerou mais de 1.600 livros, incluindo spin-offs como Able Team, Phoenix Force e Stony Man, tornando-se uma das franquias literárias de ação mais extensas e influentes do mundo.
[ ADAPTADO DO ORIGINAL PUBLICADO NO BLODEGA, BLOG DO MOZIEL T. MONK ]
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