Quando pensamos no Superman, é comum imaginarmos um herói patriótico, defensor da ordem, da lei e da moral tradicional. Mas nem sempre foi assim.
O primeiro Superman, surgido em 1938, não era o símbolo do “estilo de vida americano”. Ele era um vigilante popular, que atuava contra a elite corrupta, abusadores e exploradores. Sua missão original era clara: defender os fracos dos poderosos — custe o que custar.
O Superman das ruas: um justiceiro antissistema
Na estreia em Action Comics #1 (junho de 1938), Superman invade a mansão de um político corrupto, o senador Barrows, para forçá-lo a confessar um crime. Ele agia como um justiceiro que desafiava o poder — não como seu guardião.
Trecho da HQ:
“Eu pretendo ver justiça feita!” — Superman, Action Comics #1 (1938)
Em Action Comics #3 (agosto de 1938), ele persegue um agiota chamado Alex Greer, que cobrava juros extorsivos de trabalhadores pobres. Superman o joga de um prédio — e só não o mata porque quer que ele “sinta o medo que impõe aos outros”.
Trecho da HQ:
“Você sabe como é viver com medo? Agora vai saber.” — Superman, Action Comics #3
Já em Action Comics #8 (janeiro de 1939), ele enfrenta um empresário ganancioso que colocava vidas em risco ao se recusar a melhorar as condições de segurança em sua fábrica. Após a morte de operários, Superman destrói parte da construção para dar o recado:
Trecho da HQ:
“Talvez agora você compreenda o valor da vida humana!” — Superman, Action Comics #8
Esses exemplos mostram um Superman muito mais próximo de um ativista radical do que de um herói institucional. Ele agia fora da lei, contra figuras de autoridade — e não se preocupava com relações públicas.
Uma virada histórica: do povo para o império
Com o início da Segunda Guerra Mundial, o personagem passou por uma transição. O Superman foi alistado como símbolo da América, enfrentando espiões nazistas e promovendo o esforço de guerra.
Nas décadas seguintes, especialmente durante a Guerra Fria, o herói foi cada vez mais associado ao status quo:
Lutava ao lado do exército americano;
Protegia o “estilo de vida ocidental”;
Tornou-se um defensor da ordem estabelecida, não da subversão.
Suas histórias passaram a refletir um ideal conservador de justiça — baseado em lei, patriotismo e autoridade — e não mais em conflito social.
O herói que mudou com a sociedade
O Superman original era um produto da Grande Depressão: tempos difíceis, marcados por desemprego, abusos patronais e descrença nas instituições. Ele foi a resposta fictícia a um mundo injusto — alguém que agia onde o sistema falhava.
O Superman moderno reflete outro mundo: globalizado, militarizado, institucional. Um herói que, em muitas versões, até coopera com o governo ou a Liga da Justiça para preservar a ordem — não para contestá-la.
Conclusão: duas faces do mesmo mito
Ao longo do tempo, o Superman deixou de ser um rebelde urbano para se tornar um símbolo de estabilidade global. Mas sua origem nos lembra que ele não nasceu para manter o sistema, e sim para confrontá-lo.
Antes de vestir o manto do ideal americano, o Super-Homem era o algoz dos que exploravam os vulneráveis — mesmo que isso significasse desafiar a lei.
O herói que hoje representa valores universais já foi, em sua essência, uma resposta à injustiça cotidiana, um defensor dos esquecidos. E talvez ainda seja essa tensão — entre revolta e dever, entre justiça bruta e idealismo ético — que torna o Superman um mito tão duradouro.
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