Vítima de terroristas do Marighella, morreu esquecido e injustiçado pelos governos Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro

[VÍDEO] Orlando Lovecchio Filho faleceu em 30 de janeiro de 2021

História Vídeo

 

Orlando Lovecchio Filho perdeu uma perna no primeiro atentado da ALN, grupo terrorista chefiado por Marighella em São Paulo nos anos 60

 

O relógio marcava 1h15min da terça-feira, dia 19/03/1968. Há uma forte explosão no prédio do Conjunto Nacional na avenida Paulista. Era o primeiro atentado terrorista da Ação Libertadora Nacional (ALN), organização chefiada pelo terrorista Carlos Marighella na cidade de São Paulo. Este primeiro alvo dos terroristas era o Consulado dos EUA. Mas a vítima foi o estudante Orlando Lovecchio Filho, com 22 anos na época.

 

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Policial parado em frente a prédio com a porta estourada, após atentado à Bomba ao Consulado dos Estados Unidos, situado no Conjunto Nacional, em São Paulo (foto: Folhapress)

 

Ele tinha passado o final de semana no litoral com os familiares e chegava com dois amigos, Edmundo Ribeiro Mendonça Neto e Vítor Fernando Sicurella Varella. Como morava em um prédio sem vaga para carros, ele guardava seu automóvel no estacionamento do Conjunto Nacional. Ao passarem perto da  biblioteca do USIS (antigo United States Information Service, atual U.S. Information Agency) , anexo ao Consulado dos EUA, os amigos notaram um brilho, uma fumacinha e um barulho não comuns, vindos de perto da grade que protegia a vitrine da biblioteca. Era uma bomba.

Quando o artefato, que continha pelo menos quatro dinamites, explodiu, Mendonça Neto, então com 23 anos, foi arremessado a 8 metros de distância e caiu na rua, com estilhaços de de ferro na coxa direita. Já Lovecchio diz que não chegou a ouvir a explosão; só se lembra de acordar no chão “todo arrebentado”. Ele havia sido jogado contra um poste e ficou com a perna esquerda bastante ferida.

 

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Homem observa destroços na biblioteca do Consulado dos EUA no Conjunto Nacional, na avenida Paulista, após explosão de bomba (Foto: 20/03/1968-Folhapress)

 

Edmundo Ribeiro Mendonça Neto permaneceu 40 dias internado no Hospital das Clínicas e diz que sobreviveu “graças a um milagre”. “Por pouco não perdi a perna. Começou a gangrenar, mas os médicos salvaram”, diz ele.

Já Orlando Lovecchio Filho ficou cerca de três meses internado. E não conseguiu o mesmo milagre que o amigo. Teve o terço inferior de sua perna esquerda amputada. “A situação da perna não melhorava. Tentaram de tudo. Chegou uma hora que eu não aguentava mais ver minha mãe sofrer e não queria ficar para sempre no hospital. Então pedi para cortarem”, explicou.

Vitor, o terceiro amigo, nada sofreu, pois antes da explosão escondeu-se atrás de uma coluna. “Eu me escondi porque morro de medo de eletricidade.” Ele acreditou que a fumacinha era devido a um curto-circuito elétrico. O medo o salvou.

Orlando Lovecchio Filho declarou em entrevista à Folha de São Paulo em 18/11/1993: “tenho 80 estilhaços (da explosão) no corpo e, de vez em quando, sai um”.

 

Orlando Lavecchio Filho: 'Tenho 80 pedaços de bomba no corpo'
Orlando Lavecchio Filho: ‘Tenho 80 pedaços de bomba no corpo’

 

Na época, o jovem Orlando havia concluído o curso de piloto comercial e voava como profissional autônomo para completar horas de vôo a fim de seguir a carreira de piloto comercial. Mas tinha tinha uma bomba no caminho.

“Meu sonho de ser piloto acabou com aquela explosão”, afirmou ele, que se tornou, mais tarde, corretor de imóveis.

 

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A polícia, que mais bateu cabeça do que chegou a alguma conclusão nos primeiros passos da investigação, chegou a concentrar a investigação nos três jovens, suspeitando que eles podiam ter plantado a bomba e que, sem ter tido tempo para fugir, a “explosão poderia ter sido um acidente de trabalho”. A vida dos três amigos foi virada de cabeça para baixo. Foram feitas buscas em suas residências e na de parentes próximos.

“Investigaram a minha vida, reviraram a minha casa, tiraram tudo do armário. E, como a polícia não descobriu quem jogou essa bomba, ficou sempre essa suspeição (de que nós éramos  os autores do atentado)”, declarou Lovecchio.

Os nomes dos terroristas só vieram à tona 24 anos depois. Em entrevista publicada em 18/05/1992 no jornal Folha de São Paulo, Sérgio Ferro Pereira, arquiteto, professor e um dos mais renomados artistas plásticos do país, pela primeira vez assumia ser um dos responsáveis pela bomba ao lado de outros dois subversivos.

 

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Sérgio Ferro Pereira, em 1977 (Foto: Folhapress)

 

Após a publicação, Orlando Lovecchio, Mendonça Neto e Varella procurarem a Justiça contra Sérgio Ferro, numa ação conjunta de indenização. O caso era inédito. Pela primeira vez as vítimas de um atentado terrorista procuravam a Justiça para serem indenizadas.

Em 1993, um juiz chegou a conceder liminar determinando a busca e a apreensão de 17 trabalhos do artista plástico (as obras valiam US$ 191.200, segundo a galeria onde as obras estavam expostas). Mas, no fim do processo, a Justiça deu ganho de causa ao ex-terrorista.

 

INDENIZAÇÃO INSIGNIFICANTE PARA A VÍTIMA. JÁ PARA OS TERRORISTAS…

Orlando Lovecchio Filho continuou a sua luta para receber reparação econômica. Em 2004, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Lei 10.923, para conceder uma pensão especial a ele, de R$ 500,00 ( reajustado, segundo a Folha de São Paulo, para R$ 900,00 por mês em 2018, menor que o valor do salário mínimo, R$ 954,00 na época).

 

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Sérgio Ferro Pereira, em 2015 (Foto: Bruno Poletti – 03/03/2015-Folhapress)

 

Mas Lovecchio almejava e lutava para obter uma indenização como as que foram pagas aos terroristas e que foram anistiados. “Não pelo dinheiro, mas pelo valor moral.”
“Só queria ter o mesmo direito de outras pessoas que foram afastadas das suas funções, dos seus trabalhos na época da ditadura”, disse Lovecchio, lembrando mais uma vez que não pôde virar um piloto comercial onde ganharia um salário bem maior que os R$ 900,00.

Um dos terroristas autores do atentado que atingiu Lovecchio, Diógenes Carvalho de Oliveira,  recebeu R$ 400.000,00 a título de indenização e uma pensão correspondente ao triplo do valor recebido pela vítima. O governo federal paga indenizações mensais a cerca de 4.300 pessoas que teriam sofrido “perseguições políticas” entre 1946 e 1988, de acordo com o previsto na Lei nº 10.559/2002. A viúva de Marighella, Clara Charf, recebe pensão vitalícia do governo brasileiro desde 07/03/2008, apesar de não ter solicitado.

 

Infelizmente, Orlando Lovecchio Filho faleceu em 30 de janeiro de 2021 sem ver a justiça ser feita. Jamais foi devidamente atendido pelos governos do PT, pelo governo Michel Temer e pelo governo Bolsonaro.

 

Em 01/01/2020, um ano antes de sua morte, Lovecchio fez apelo em vídeo direcionado ao então presidente Jair Messias Bolsonaro:

 

 



 
LINK PARA O VÍDEO ORIGINAL

 
Em 10/03/2020, Lovecchio desabafou em um de seus perfis no Facebook:

“Depois de 53 anos ainda espero a indenização digna, e esse o presidente Bolsonaro (totalmente desinformado), ainda enviou minha reinvidicação para a tal de Damares a mais de um ano, e ela deve ter feito parte do terror.”

 

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Em 12/03/2020, Lovecchio se manifestou pela última vez sobre o assunto em seu perfil principal:

“Onde anda a Justiça de verdade ?
Em 19/03/2020 completará 54 anos que os USA + Eu (Orlando) fomos vítimas inocentes do terrorismo de 1968, quando o governo do mencionado pais teve danos grandes, e EU PERDI A MINHA PERNA esquerda com a explosão de 1 bomba terrorista ali implantada, mas hoje as coisas estão pior, pois temos um presidente da república que é politico a 30 anos e tem intelecto descontrolado, só gosta de viajar e de mulheres importantes no poder, mas que, embora já alertado sobre os meus 54 ANOS de sofrimento, nem sabe o que peço ou que mereço. Pois não sabe o que é JUSTIÇA VERDADEIRA.”

 

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Orlando Lovecchio Filho

31 de janeiro de 1946
30 de janeiro de 2021†

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Orlando Lovecchio Filho
31 de janeiro de 1946
30 de janeiro de 2021†

Assista ao documentário ‘Reparação’, de 2012, onde o próprio Orlando Lovecchio Filho relata os fatos:

 

Perfis do Orlando no Facebook: 1 , 2

 
 


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