Por trás da pose de enfrentamento, um político fraco e dependente do sistema que dizia combater
O populismo nacionalista de direita é um fenômeno global. Jair Bolsonaro não o criou, tampouco o liderou com visão estratégica. Ele apenas se beneficiou da onda quando ela emergiu no Brasil, canalizando ressentimentos difusos contra as instituições, a política tradicional e o chamado “Sistema”. Mas ao contrário do que muitos de seus opositores (e até seguidores) acreditam, Bolsonaro não foi um político forte, muito menos um líder desafiador da ordem estabelecida. Sua imagem de enfrentamento era, na verdade, uma máscara para sua impotência.
Diferente de outros líderes globais com retórica semelhante — como Donald Trump, Viktor Orbán ou Narendra Modi —, Bolsonaro jamais estruturou um projeto de poder duradouro ou mesmo coerente. O bolsonarismo é maior do que Bolsonaro, e não depende de sua figura para sobreviver. Da mesma forma que o trumpismo ou o lepenismo existem à parte de seus fundadores,
o bolsonarismo é um sintoma de crise institucional e cultural, não um plano articulado.
A trajetória política de Bolsonaro revela, sobretudo, oportunismo. Ele não se impôs ao sistema: se aliou ao que havia de mais velho e disfuncional nele. Entregou o governo ao centrão, entregou aliados aos leões e blindou sua família. Suas declarações agressivas, sua linguagem de confronto e sua pose de outsider escondiam um comportamento político covarde e reativo.
Sua altivez política, portanto, era performática. Não enfrentava de fato as instituições, mas apenas as desafiava no discurso — recuando sempre que o risco aumentava. Não defendia uma causa pública, mas apenas sua própria proteção. Não governava com força, mas com chantagem emocional sobre sua base.
É por isso que Bolsonaro parece tão menor do que o movimento que se formou em torno dele. Não há grandeza em sua atuação, nem mesmo trágica. Falta-lhe convicção, projeto, coragem de assumir as consequências de seus atos. Em vez de cair de pé, prefere escapar pelas bordas. Em vez de liderar uma transformação, se contenta em manter a confusão.
O bolsonarismo pode seguir existindo como estilo, como linguagem ressentida, como nostalgia de um passado idealizado. Mas Bolsonaro, como figura política, será lembrado não pela ousadia de ter tentado algo novo — e sim pela mediocridade de quem nunca teve coragem de tentar nada de verdade.
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